A pesquisa anual da consultoria Deloitte sobre o perfil do consumidor no Natal apontou que 63% das pessoas pretendem reduzir os gastos de final de ano. É o maior resultado dos últimos 6 anos. Não é para menos. Os juros médios pagos pelas pessoas físicas chegaram a 7,3% ao mês em outubro de 2015, subindo 44,94 pontos percentuais anuais desde o início da alta da taxa básica de juros, em janeiro de 2013. As projeções de variação do PIB estão cada vez mais modestas, e a inflação continua elevada, acumulada em 9,93%, o que tende a reduzir ainda mais o poder de compra da população.
Os números do PNAD, que também foram recentemente divulgados pelo IBGE, indicam que 8,9% da população economicamente ativa está fora do mercado de trabalho. O consumidor sente na pele os desafios da instabilidade econômica e, infelizmente, a perspectiva para 2016 é de retração, estimada em 1,96% no PIB. A boa notícia é que 2015 está acabando e, junto com ele, chega o tão esperado 13° salário, momento estratégico para organizar a vida financeira e se preparar para o ano que vem.
Gastos de final de ano
Antes de fazer a lista de presentes para o Natal, é preciso ter em mente que o primeiro trimestre traz outra lista, aquela de contas anuais que impactam no orçamento: matrícula e material escolar, IPVA, IPTU e até os gastos com as férias na alta temporada. Portanto, para quem já está endividado, a sugestão é mesmo pagar as dívidas. Principalmente as do cartão de crédito, que, sem dúvida, são as piores delas.
A taxa de juros no rotativo está em cerca de 550%, podendo chegar a 793% ao ano. Se o cartão for parcelado, com o próprio banco sugerindo o valor da parcela, as taxas podem variar de 220% em média a 693% ao ano. O cheque especial segue o mesmo caminho, com taxas de até 525%a.a. Não é preciso fazer as contas para perceber que os valores são impraticáveis. Por isso, talvez seja melhor usar o salário extra para quitar tudo e garantir a saúde financeira no próximo ano, já que a expectativa da Selic ainda é alta, mantendo os 14,25%a.a de juros pelo menos até abril de 2016.
O senso comum tende a pensar que a dívida bancária é a primeira a ser cortada do sorteio de contas a pagar, mas é ela que terá impacto direto na vida financeira, porque elimina o poder de compra ao incluir o nome do devedor nos órgãos de proteção ao crédito. Ela pode até levar a dívida ao âmbito jurídico, movendo uma ação de execução, de penhora dos bens e do bloqueio de todas as contas bancárias, que ficam retidas pela justiça. Essa é uma situação extrema, mas importante de ser pontuada nesse momento de planejamento.
Para quem já tem a saúde financeira estabilizada, realizar os pagamentos à vista é uma boa alternativa. É possível negociar bons descontos, como no caso do IPVA ou mesmo do condomínio, se conseguir pagar várias mensalidades antecipadamente. Investir também é sempre um bom negócio. O tesouro direto, por exemplo, teve um aumento de 72% no número de investidores ativos. LCA (Letra de Crédito do Agronegócio) e LCI (Letra de Crédito Imobiliário) são outros dois investimentos de renda fixa isentos de IR, que costumam ser bem mais rentáveis do que a poupança. Um bom gerente de contas pode identificar o melhor investimento para cada perfil.
Fuja dos parcelamentos, não faça dívidas de médio e longo prazos e garanta liquidez durante o mês. São regras simples que podem ajudar a tornar mais palpável o desejo de um próspero ano novo.
*Rodrigo Garcia é diretor técnico da Investor Consulting Partners
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